RECHEIO — Tem alguém assistindo?
#️⃣ Edição 77
VOCÊ JÁ PAROU PARA VER UM VÍDEO?
Há algum tempo eu acompanho a briga pelo domínio dos olhos do público. TikTok, YouTube ou Televisão: Qual delas é a liderança que importa no consumo de conteúdo?
Um levantamento recente da Kantar-Ibope já chamava atenção para o fato do app de vídeos curtos ter ultrapassado a audiência da Rede TV e da TV Cultura, por exemplo.
E isso mesmo com uma participação pequena dentro das casas: apenas 3,1% de share das plataformas de vídeos online. Quem ainda fica à frente? YouTube (14,1%) e Netflix (4,2%).
Quando a gente olha para a participação da TV paga no total, é de 14,2%.
Quer detalhar ainda mais? O report mais recente da DataReportal mostra que o TikTok é líder absoluto quando o assunto é tempo de uso. A média é de 1 hora por dia dentro do app. No YouTube, são 54 minutos.
Aliás, o tempo médio das pessoas dentro do TikTok subiu em 2 horas mensais nos últimos 6 meses.
Mas quando a gente analisa os números maiores, o YouTube ainda segue absurdamente absoluto. A perspectiva mais conservadora é que já são mais de 3 bilhões de usuários ativos mensais. (O TikTok? 1,2 bi.)
E a TV? As pessoas têm visto cerca de 6 minutos a menos do que há um ano, o que dá uma queda de -6,1%. Mesmo assim, são 3h21m diários em frente da televisão, em média.
Sim, várias baixas e altas, e mesmo assim o tempo de consumo de tela geral segue alto. Como pode?
É tudo junto
Tem uma história mais importante sendo contada a partir desses dados todos. Todas essas horas dedicadas às telas diariamente não são mais tão separadas quanto já foram. Elas se sobrepõem, se dividem e espalham ao longo de uma rotina cada vez mais fragmentada.
Poder assistir vídeos no celular, na televisão e no tablet é parte disso. Mas fazer isso em casa, na faculdade, no trabalho e no trânsito também. Em doses que podem levar 5 minutos ou 1 hora. Depende da pessoa, depende do dia, depende de tanta coisa…
O YouTube se esforçou tanto para adotar o modelo de vídeos curtos do TikTok (com sucesso) não porque queria copiar o concorrente. Mas porque dados da plataforma já revelavam que o hábito de ver vídeos estava mais fragmentado em diferentes durações, momentos do dia e até tipos de conteúdo.
Essa pulverização da audiência resultou em uma pulverização do conteúdo. Um episódio inteiro do Masterchef também são trechos no TikTok, playlist no YouTube, reacts nos Reels… E nenhum deles é o começo ou o fim da jornada. Eles existem independentemente, embora formem um todo.
Fim da história?
Contei toda essa história para ajudar a entender o fim do storytelling (que eu já falei antes) dando lugar a um novo tipo de relacionamento com as jornadas do público.
Não existe mais começo, meio e fim no consumo de conteúdos. Tudo acontece ao mesmo tempo e é ditado pela vontade do espectador naquele momento. Contexto, significado e objetivo precisam estar contidos em cada vídeo, em cada peça, em cada post.
E é por isso que hoje TV, YouTube e TikTok parecem tanto a mesma coisa. Seja na linguagem, nos conteúdos ou até no jeito das pessoas falarem, tudo está convergindo para se tornar parte dessa grande máquina de atenção fragmentada, ditada pelo humor do público a cada momento.
Sim, parece confuso, caótico e até assustador. Mas é sobre acompanhar o público e abrir mão de fórmulas que não fazem mais sentido. Isso é mais fácil do que parece, desde que você (nós) esteja com disposição para mudar o jeito de pensar. Sempre o maior desafio.
RECHEADA DE INFORMAÇÃO
Um gráfico pra você pensar…
TÁ QUENTINHO
As principais novidades e tendências do mundo do conteúdo
A Meta e a justiça
A Meta está sendo processada por um grupo de mais de 30 estados dos EUA por explorar jovens para obter lucro. A ação é complexa e bem amparada em estudos e depoimentos mas, em resumo, sustenta que a empresa usou tecnologias poderosas e recursos viciantes com a intenção de “atrair, envolver e, em última instância, enredar jovens e adolescentes”. O processo promete ser longo e cheio de etapas, mas já se torna um marco no movimento que já está mais fortalecido na Europa: a responsabilização das big techs pelo uso de recursos de alto impacto psicológico e comportamental. A exigência de mais ética, transparência e responsabilidade tem vindo dos agentes políticos, mas é resultado de uma preocupação real dos usuários. Vale para grandes empresas, vale para pequenas marcas. Facebook e Instagram podem se tornar símbolos dessa mudança de comportamento da sociedade (e pagar um preço alto por isso).
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YouTube bloqueado
O YouTube apertou o cerco contra o uso de ad blockers. O que começou como um experimento em maio agora se tornou um esforço global. Quem abre a plataforma usando algum tipo de serviço de bloqueio de anúncios encontra uma tela preta com um aviso: “ad blockers violam os termos de uso do YouTube”. Para ver vídeo, tem que desligar. O uso dos bloqueadores aumentou desde que o YT lançou um ad de abertura de 30 segundos não-pulável. Nos fóruns da web, usuários já trocam experimentos de como burlar o novo sistema.
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Trabalho de IA
O LinkedIn anda muito bem. A Microsoft informou que a rede social teve uma alta de 8% na receita, além de ter atingido 1 bilhão de usuários. Na onda otimista, a empresa anunciou uma série de iniciativas envolvendo Inteligência Artificial: um assistente na criação de posts, a opção de receber resumos de conteúdos do site e um recurso que faz um resumo dos conteúdos de sites linkados na plataforma. Segundo a empresa, a tecnologia será capaz de personalizar as entregas para cada usuário a partir de suas preferências e comportamento. Tudo isso deve ficar disponível, a princípio, apenas para quem assina o Premium.
Ainda falando em Linkedinho, vale ler este artigo da The Cut que analisa o porquê da Geração Z estar adorando usar a rede social profissional. Tem tudo a ver com um ambiente positivo, sem ironias e sem clickbait. Concorda?
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Amigo sou AI
O Instagram está testando a criação de um companheiro de Inteligência Artificial na plataforma. Segundo os prints vazados, quem usa o app poderia escolher características de personalidade, como “criativo”, “entusiasmado”, “pragmático”, entre outros. Também seria possível definir temas de interesse e tipos de interação. A partir daí, um chat é criado para os usuários conversarem com a companhia virtual. O Insta acredita que o recurso pode ser usado para “responder perguntas, conversar sobre dificuldades, fazer brainstorm e muito mais”. Na onda de tantas propostas de chatbot que usam IA aparecendo recentemente, a dúvida que fica é se as pessoas realmente querem ter esse tipo de interação de forma frequente…
É CASE QUE VOCÊ QUER, @?
Então se inspire aqui nesse exemplão de conteúdo.
O Halloween já passou, mas eu não vou deixar passar esse exemplo bem legal de conteúdo para o feriado. Sem Parar é feito para quem dirige, certo? E o que as pessoas fazem enquanto dirigem? Ouvem podcasts, lógico. Já imagina onde vou chegar com isso… Rota do Terror é uma série em 3 episódios de áudio contando histórias aterrorizantes. O formato é narrativo e os contos não fazem qualquer referência ao produto ou serviço. A ideia é realmente focar no conteúdo e promovê-lo com o selo da marca. O resultado é legal, diferenciado e funciona para clientes novos, antigos e futuros. Mais um case de podcast que não é conversa de bar…
BOCADITOS
Links rápidos para leituras demoradas.
• As pessoas que arruinaram a internet (spoiler: são de SEO) [The Verge]
• Por que tantas marcas estão fazendo Out of Home fake? [Marketing Brew]
• Como criar um planejamento de conteúdo de 4 meses [Hubspot]
Obrigado pela leitura!
Esta é a newsletter RECHEIO. Toda quinta-feira, às 07h08, conteúdo que importa direto no seu e-mail. (Até no feriado? Sim!)
Por, Alberto Cataldi, head estrategista de conteúdo e jornalista. Me segue lá no Linkedinho que também compartilho coisas deste universo (e memes).
Quero saber o que achou! É só responder este email. Mande elogios, dúvidas e críticas.
Até a próxima!